Autora: Yara de Mello

João Paulo Schmalz é conhecido pela comunidade de montanhistas em Joinville por ter liderado uma excursão ao pico Jurapé em 1886, e este evento é considerado o nascimento do montanhismo no município. Mas além desse e de outros fatos marcantes de sua história ele era um naturalista, e possivelmente os primeiros registros de dados climatológicos da região foram feitos por ele…

Johann Paul (João Paulo) Schmalz nasceu na Suiça em 5 de maio de 1844. No dia 20 de maio de 1852 ele chegou a Colônia Dona Francisca. Era um homem atuante na sociedade da época, chegou inclusive a ter o cargo de superintendente municipal, o que hoje é equivalente a prefeito de Joinville. Mas a sua biografia não é exatamente o foco deste post, e sim sua relação com as ciências naturais, por isso serei breve neste ponto.

João Paulo Schmalz. Fonte: Schmalz, 1989.

No dia 5 de junho de 1886 João Paulo Schmalz atingiu o cume do pico Jurapé, acompanhado dos alugados Mendes e Jesuíno, e de Bruno Clauser, Hahn, Jacob Schmalz e Otto Delitsch. Mais detalhes sobre esta conquista estão disponíveis AQUI, nesta entrevista concedida pelo geógrafo Reginaldo Carvalho. E também na monografia de Odete Schmalz, citada no final do texto.

Achei interessante, que João Paulo Schmalz declarou em seus registros que próximo ao final da subida do Jurapé, eles encontraram um rastro que eles acreditavam que só os bugres poderiam ter feito. Este rastro seguia para as serras do lado esquerdo da estrada Dona Francisca, e para eles foi o rastro utilizado pelos bugres quando assassinaram o colono Lenschow e parte de sua família em 1873. Bom, se aconteceu exatamente assim nunca saberemos.

Muitas incursões como esta ao Jurapé foram realizadas por ele, inclusive a primeira ascensão a Pedra Branca do Araraquara que se têm registro, entre 1886 e 1906. Schmalz colecionava plantas e insetos, e por isso trocava experiências com naturalistas e entomólogos nacionais e da Europa. Em 1904 sua coleção de coleópteros chegou a ter 2.309 espécies e 1.019 espécies de lepidópteros.

Em 1913 ele publicou um artigo na revista Vida Nova, o que permitiu que sua coleção de borboletas fosse exposta em Chicago (EUA), infelizmente essa coleção nunca retornou para Joinville, pois segundo relataram, foi completamente destruída em um acidente com fogo nos EUA ainda (bem questionável isso na minha opinião).

Além de tudo isso, ele tinha uma dedicação imensa em registrar dados climatéricos (como ele chamava). Tem registro de dados de temperatura, pressão atmosférica, precipitação pluviométrica, ventos, eclipses, fases da lua, aspectos das nuvens, geadas e enchentes.

Apontamentos climatéricos de Joinville realizados pela família Schmalz. Foto: Yara de Mello

Após a sua morte, alguns destes registros (principalmente precipitação) foram continuados por seu filho Adalberto, e posteriormente por suas netas Gertrudes e Carmen. E é sobre estes dados que falarei um pouco a seguir.

Pluviômetro e estufa de orquídeas na casa onde residia o Sr. Adalberto Schmalz. Foto de 1949 na rua Marechal Deodoro. Arquivo da família Schmalz.

Existem registros de dados de precipitação de 1886 até 2002. Há falhas, ainda assim a série anual completa é de 93 anos.

Precipitação anual registrada pela família Schmalz. Organizado por: Yara de Mello

Os maiores acumulados anuais de precipitação ocorreram nos anos de 1998 (3.544,5 mm), 1983 (3.339 mm), 1972 (3.004 mm) e 1957 (2.906 mm), respectivamente. É notável na figura acima a variação dos totais anuais ao longo das décadas, destacando-se que os maiores acumulados ocorreram apenas na segunda metade do século XX. O menor valor precipitado foi de 1.449 mm no ano de 1968. A linha em vermelho na figura indica a média de precipitação para todos os anos (2.178,1 mm).

A série de dados de temperatura e pressão barométrica tem aproximadamente 30 anos. Mas este assunto fica para um próximo post.

Gostaria de agradecer a Rita de Cássia (familiar) pelas informações concedidas no ano de 2015.

Fonte:

Schmalz, Odete. Um ducado francês em terras principescas de Santa Catarina. Monografia (Especialização em História da América). Fundação Educacional da Região de Joinville – FURJ. Joinville, 1989.