Pesquisas e Relatos

Expedição Cerro Plata – Primeira experiência em ambiente de alta montanha – Parte I

Nessa primeira parte do relato irei falar sobre o planejamento, gastos com equipamentos, comida, medicamentos, etc. Na segunda parte irei relatar como foi a nossa aventura pelo Cordón del Plata.

INTRODUÇÃO

Nas minhas últimas férias (dez/2018-jan/2019) fui para Torres del Paine e El Chaltén e fiz algumas caminhadas sozinha, como o circuito W e parte do circuito Huemul em Chaltén. Assim que voltei pra Joinville em janeiro já decidi que a próxima aventura seria em ambiente de alta montanha…

Senti que havia chegado o momento. Trilhas e travessias, principalmente pelas serras do nordeste catarinense, já tem 15 voltas ao Sol que venho fazendo. Algumas das trips memoráveis são: aventura solo pela serra do Quiriri, travessia Araçatura X Crista, Alpha-Ômega, serra do Tabuleiro, Campo dos Padres e Serra Fina.

Fiz uma rápida pesquisa e percebi que a expedição para o Cerro Plata é uma ótima ideia para quem está iniciando no ambiente de alta montanha. Decidi que lá seria o destino. Convidei algumas amigas como a Marina e a Idce, mas elas não puderam embarcar dessa vez. O Jeferson aceitou de primeira e logo já começamos a comprar os equipamentos.

Foi muito estudo e planejamento durante todo o ano: logística, equipamentos, trilha, aclimatação, remédios, enfim, nunca havia me preparado tanto para uma trip de montanha.

PLANEJAMENTO

Íamos de avião, porém, numa caminhada na serra do Papanduva a Cris Behr deu a ideia de ir de carro. Ela iria junto, mas acabou tendo uns contratempos, machucou o pé escalando e teve que abandonar. Ainda assim, continuamos com a ideia de ir de carro, as passagens de avião estavam muito caras e com longas esperas nos aeroportos. Sobre os detalhes da viagem de carro já fiz um relato, que está disponível nesse link.

Aclimatação

Levando em consideração que estamos acostumados com altitudes próximas ao nível do mar, estar acima dos 3 mil metros já é um desafio. Cada corpo reage de uma forma as altas altitudes. Mas é muito importante estar preparado para isso, ler, estudar, etc. Tem muitas dicas na internet, e artigos interessantes como este e este

As principais dicas que recebemos e percebemos na prática são: beber muita água (mínimo de 3 litros/dia), se alimentar bem e fazer as coisas devagar, desde o processo de levantar e sentar, até caminhar.

Aqui neste item o meu objetivo é apenas o de passar o nosso itinerário, que está diretamente ligado ao processo de aclimatação.

Então, segue o itinerário proposto, que não significa que foi o que aconteceu:

Dia Itinerário
1 Chegada em Mendoza e repouso no refúgio Ski & Montaña
2 Refúgio X Vega Superior (3.450 m)
3 Ascensão ao Cerro Adolfo Calle (4.269 m) e Stepanek e retorno para o Vega Superior 
4 Vega Superior X Salto (4.300 m)
5 Descanso
6 Salto X Hoyada X Salto 
7 Salto X Hoyada 
8 Janela 1 Cume – Hoyada X Cume X Hoyada X Salto
9 Janela 2 Cume/ Descanso no Salto
10 Salto X Vallecitos X Salto 
11 Salto X refúgio X Cerro Andresito (3.140 m) descanso
12 Ataque ao San Bernardo e Saída de Mendoza às 20 horas

A partir do dia 10 o cronograma estava aberto, caso tivéssemos energia de sobra pra fazer mais algumas montanhas. Deixamos ali algumas opções, que agora percebo que foram um pouco audaciosas hahahahaha.

Equipamentos adquiridos

Parte dos equipamentos comprei no Brasil, outra parte no Canadá e os equipos da Naturehike comprei no Aliexpress, o que me gerou uma baita economia. Porém, sempre fica aquele medo de ser taxada. O produto mais caro que comprei da China foi o saco de dormir, que custou R$791,36 e a barraca (que veio de um estoque do Brasil, chegou em uma semana) que custou R$835,07. Não fui taxada em produto algum e todos chegaram dentro do prazo. Na Argentina comprei a Jaqueta de pluma Makalu Tolosa por R$ 1.087,00 na loja El Refugio Adventure Gear localizada em Mendoza e mais uns itens menores. Eu já tinha alguns equipos, mas nada para o frio mais extremo. Quanto gastei em equipamentos? R$ 9.065,40. É grana! Mas vão durar muitos anos. Abaixo os itens inclusos nesse valor:

Todos os equipos que comprei me atenderam bem. As roupas segunda pele da Solo são muito boas, bem confortáveis e quentes. Não cheguei a usar as polainas nem o crampon, de resto utilizei tudo.

Comida

Eu comprei comida pensando em doze dias de montanha. Cada pessoa tem o seu gosto pra comida, e uns comem mais e outros menos. Eu na montanha como bastante, principalmente carboidrato.

O que me falaram e que li a respeito é que não sentimos muita fome quando estamos muito alto. Eu só não tive fome quando estava próximo dos 5 mil metros, antes disso eu tava me alimentando normalmente.

Para os lanches durante a caminhada levei chocolate, carbogel, balas toffees e amendoim, basicamente isso. 

Para o café da manhã levei pão, queijo e embutido (aqueles salames tipo COPA). Esse também foi meu lanche nos dias de bate e volta. Também levei bolinhos prontos, tipo lanchinho de criança. Chegamos a levar chocolate em pó, pra fazer chocolate quente, porém, quase não usamos, a preferência foi pelo chá, que é mais suave, já que o medo de ter uma diarréia era grande rsrsrs. Ahh, comprei aquele RAP10, e fiz com queijo e chocolate (separadamente), ficou uma delícia.

E para as jantas e almoços levamos comida liofilizada por conta do peso. Calculei 12 refeições com liofoods para nós dois:

Item Qtd
Carne com azeitonas liofood (serve 2) 2
Carne De Soja Ao Sugo Liofoods (serve 2) 3
strogonoff de frango (serve 2) 1
Arroz com Carne de Panela Liofilizado + grão de bico 2
Arroz com Carne de Panela 2
risoto com frango (serve 2) 1
Creme de mandioquinha com cenoura + escondidinho de carne de jaca (serve 1) 4
Arroz, Feijão com Carne e Abóbora 2
sopa de abóbora com macarrão 1

Na prática, como ficamos apenas 6 dias na montanha, sobrou um monte de comida. E geralmente não chegávamos a comer todo o conteúdo da embalagem. Levei sopão também. E aquelas sopas tipo caldinho. O que eu mais sentia vontade de comer por lá, na realidade, era sopa. Ahhh, IMPORTANTE: O jeito que a comida liofilizada fica melhor é colocando a água quente dentro da embalagem. Aquela carne de sol da VAPZA é muito boa pra quem curte carne, e passa na migração! Também tem purê de batata e polenta instantânea em alguns mercados, recomendo!

É preciso beber muita água por lá, no mínimo 3 litros por dia. Há quem recomende 1 litro a cada 1000 metros, por exemplo, quando chegar nos 3 mil beber 3 litros por dia, quando chegar aos 4 mil beber 4 litros por dia. Enfim, nessa soma tem o chá, a água, o suco e o que mais você for beber.

Eu acabei não bebendo tanto chá, bebia em média 2 litros e meio de água e mais 1 litro de isotônico em pó misturado com água. Comprei o produto da marca Exceed, dos sabores tangerina e água de coco, e os dois estão aprovados. Já o Jeff deu preferência pelo chá, bebeu muito todos os dias, totalizando pelo menos 4 litros de líquido/dia. Levei Tang e bebi apenas um pacote, MUITO DOCE! O Jeff também achou muito doce, fica meio enjoativo na “altitude”.

Os lanches e cafés cada um comprou o seu, já que os gostos são diferentes. Apenas as comidas de almoço e janta é que dividimos. Com comida liofilizada gastamos um total de R$ 492,89.

IMPORTANTE = Ficamos em dúvida de quantos cartuchos de gás levar para o fogareiro. Fazendo uma pesquisa encontrei um dado que diz que o cartucho de gás da Nautika TEKGAS 230g dura algo em torno de 2 horas aceso. Por precaução levamos 2 desses cartuchos de 230g e 1 de 450g. Usamos o equivalente a no máximo 1 gás e meio de 230g. Ou seja, exageramos. Da próxima vez levarei apenas 2 de 230g. Outra coisa, é mais fácil estabilizar a panela, por conta do vento, no cartucho menor de 230g, por isso, é o que recomendamos. Além disso, é importantíssimo levar um protetor de vento para o fogareiro. 

Remédios

É recomendável levar um kit primeiros socorros com diversos medicamentos. Na realidade pensamos nos problemas mais comuns: dor de cabeça, diarréia, dor muscular, enjoo, inflamação, febre, etc. Além de remédios para o mal de altitude mesmo, como o ibuprofeno, neosaldina e diamox (como preventivo). No fim, o único remédio que utilizei durante toda a trip foi 1 comprimido de neosaldina. Mais detalhes darei na parte II do relato. 

Segue a lista de remédios, etc.:

  • Gelol pomada (para dor muscular);
  • Bepantriz (para passar na região do nariz e boca por conta do frio e vento);
  • Naproxeno (para inflamação nas articulações);
  • Lenço umedecido (para higienização pessoal, também é melhor que papel higiênico);
  • Protetor solar para o corpo, rosto e labial;
  • Ibuprofeno (dor de cabeça por conta da altitude/ bom para gripe tbm);
  • Imozec (para prender diarréia, usar em últimos casos);
  • Floratil (para regular a flora intestinal);
  • Naldecon noite e dia (febre e gripe);
  • Dramin (enjoo e vômito);
  • Diamox (dor de cabeça/ efeitos da altitude).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Claro que eu não citei todos os itens, procurei falar dos principais. O objetivo era apenas dar umas dicas mais concretas e objetivas, já que pra pesquisar isso tudo leva um tempão. A partir desse relato já é possível ter uma noção do que precisa levar, enfim. Claro, respeitando que cada um tem suas particularidades.

Em breve sairá o relato da trip. 

AGRADECIMENTOS

Neste primeiro momento gostaria de agradecer ao Joel e seus pais, Marina e sua mamis por terem me dado um help na compra de equipos lá do Canadá.

A  loja Jurapê pelo apoio com a compra de equipamentos, e a Setti Alpinismo pelo apoio com a compra de liofoods e gasolina.


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