A travessia Bolinha X Marco 22 está localizada na serra do Ibitiraquire, no Paraná. Inicia na fazenda do Bolinha, entrada para as clássicas montanhas Camapuã e Tucum, e termina lá na serra da Graciosa, com saída para a Rodovia bem onde se localiza um marco (Marco 22).

Devido à logística tem pessoas que fazem o caminho inverso, e mesmo lá em cima, tem diferentes trajetos que são possíveis seguir para concluir a travessia. Dá para ir pela trilha convencional do Siririca, ou ir para o Siririca por cima, passando pelos cumes (Camapuã, Tucum, etc.). A segunda parte tem duas opções também: na Colina Verde seguir pelo leito de um rio afluente do rio Forquilha, depois encontra esse, segue pelo leito do mesmo até uma curva do rio, onde se pega a trilha e começa uma subida até a Garganta 235. Ou ainda na bifurcação com o primeiro agudo (Agudo Lontra), pegar um novo trajeto interagudos, que vai passando por todos os agudos (alguns de ataque), e depois encontra a trilha original lá na Garganta 235…

Essa travessia está na nossa lista há algum tempo, minha e da Idce no caso, desde que fizemos a Travessia Alpha- Ômega em 2018 (veja o relato aqui). Acabou que demorou, mas saiu. Quando fui pegar o track para colocar no Garmin, percebi que a pasta era de 2019, desde lá a trilha já estava organizada, só esperando…  

Fomos eu (Yara de Mello), a Idce Sejas e o Paulo Mengue. O trajeto que fizemos foi seguindo pelo Camapuã, Tucum, Luar, Siri, Siririca (Dia 1), Agudo Lontra, Colina Verde, Garganta 235 até um acampamento abaixo na mata (próximo ao rio Mãe Catira) (Dia 2), e no último dia desse acampamento até o Marco 22. 

Foram aproximadamente 25 km percorridos no total.

9,8 km no primeiro dia, 7,6 km no segundo e 7,5 km no terceiro.

A seguir passo alguns detalhes de como foi essa travessia e algumas dicas importantes também.

Dia 1 (16/08/2024) – Fazenda do Bolinha X Siririca

Iniciamos a caminhada por volta de 7 horas, seguimos com a trilha seca, era dia de semana então estava tranquilo, quem caminha aos finais de semana por ali com tempo bom sabe que a fila é gigante. Fui com cerca de 1 litro de água e 1 gatorade, que foi o suficiente até o rio entre o Tucum e Luar. Chegamos por volta das 9h50min no Tucum. Lembrando que na subida para o Camapuã tem um ponto bom para pegar água se for necessário, antes da bifurca para o Siririca.

Esse primeiro dia de caminhada seria o mais cansativo mesmo, maior desnível em ascensão. A subida para o Camapuã é um pouco cansativa, depois desce um vale e sobe para o Tucum, subida rápida, mas puxada também. Depois vem uma longa descida até o rio entre o Tucum e o Cerro Verde (essa descida é bem íngreme, tem trechos com corda).

O primeiro rio que chegar pode pegar água, se for para o Cerro Verde é esse mesmo o ponto para pegar água, agora se seguir para o Luar na sequência terá um rio com bom volume de água também. Esse é último ponto bom de água antes do Siririca. Mas baixando o Luar, antes do Siri, também tem um ponto de água, água mais parada, mas dá para abastecer também. Apenas se estiver muito seco é que não vai ter nada.

A caminhada até o Luar (chegamos lá por volta de 13h15min) já não sobe tanto, depois se embrenha no mato entre Siri, até sair acima da rampa do Siririca. Recomendo fazer a travessia com manga comprida se não quiser cortar os braços pelo caminho. Tem alguns trechos meio fechados. O último trecho ainda em mata fechada que vai subindo para encontrar a trilha do Siririca é cansativo. Depois não sobe tanto até chegar no Siririca em si,  eu cansei bastante, tava quente e no ano ainda não tinha feito nenhuma caminhada longa assim, deu uma canseira. Ainda mais com cargueira com água, e comida para 3 dias, barraca e tudo o mais.

Quando encontrei a trilha do Siririca parei para esperar a Idce e o Mengue, e encontrei dois caminhantes que estavam descendo do Siririca, comentaram que não tinha ninguém lá, e de fato, chegamos no acampamento por volta das 16h30min, pegamos os melhores lugares para acampar e só tinha a gente mesmo. Na madrugada do dia seguinte, lá pelas 5 da matina que começou a chegar uma galera de diferentes grupos, barulhentos, acordaram a gente fácil, falta um pouco de respeito, mas ok, tudo se aprende.

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Dia 2 (17/08/2024) – Siririca X Camping de Emergência

Iniciamos a caminhada por volta de 8h30min, já começa numa descida bem íngreme, com alguns trechos com cordas, com rocha, um pouco escorregadio, mato fechado (bom ir com manga comprida), até uma luva cai bem para não machucar as mãos. Abaixo tem algumas fotos que dá para ter uma ideia.

Depois dessa parte de descida, que deve demorar uma meia hora, quarenta minutos, chega num terreno um pouco melhor de caminhar, até a bifurcação com o acesso ao agudo Lontra, que é um pouco antes de um rio, que dá para pegar água, estava um pouco parada, mas dava para pegar. 

Acabamos indo até o Lontra, é um desvio rápido, chegamos lá no cume por volta das 10h20min, ou seja, quase duas horas de caminhada até ali. E vale a pena ir, porque o visual para o Cotia é bem bonito.

Seguimos pelo caminho normal, retornando até a bifurcação, passando pelo ponto de água, o Colina Verde. Depois do Colina anda um pouco nos campos, e logo já entra na mata e no leito do rio, a trilha tá pouco batida ali, mas pode confiar no tracklog rsrsrs.

Ali inicia um trecho que não é tão longo, mas é delicado, caminhada pelo leito do rio. É muito bonito por sinal, e água abundante todo o caminho. Nem precisa se preocupar com isso. Em dia ou período chuvoso deve ser ruim e até perigoso fazer esse trajeto.

Segue por um rio, que depois se junta com outro, depois com o Forquilha e essa caminhada dura aí em torno de umas duas horas. Depois é preciso ficar atenta para sair do rio e pegar a trilha no sentido da Garganta 235. É uma subidinha, mas nada demais, chegamos lá um pouco antes das 15 horas.

Decidimos que ali não seria um lugar muito legal de acampar, até porque nem tinha água, precisaria descer uns 15 minutos para pegar. Então como era cedo decidimos seguir a trilha, fizemos a descida até o rio Mãe Catira, e logo tem um ponto de acampamento bem legal, ao lado do rio, que cabem umas duas barracas. 

Decidimos caminhar um pouco mais até um ponto que tinha no GPS como acampamento de emergência. Fomos até esse ponto, que também é próximo ao rio, mas não é tão legal como o anterior. Acabamos ficando por lá, dava de ver que ninguém tinha acampado por ali recentemente. Vale a pena parar no anterior. Mas ali é OK, água próxima e plano.

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Dia 3 (18/08/2024) – Camping de Emergência X Marco 22

Iniciamos a caminhada nesse último dia por volta das 8h40min e chegamos no Marco 22 quase as 13h30min, ou seja, quase 5 horas de caminhada.

Diria que foi o dia mais tranquilo, segue caminhando mais no plano, margeando o rio em alguns momentos, atravessando em outros, alguns pequenos sobe e desce, alguns trechos batidos errado de trilha até o rio, aí retorna e vê que na verdade a trilha não chega no rio. 

Trecho bonito no início pelo leito do Mãe Catira, inclusive passando pelo topo e depois na base de uma cachoeira bem bonita. A parte mais puxadinha é a subida final, depois que atravessa o último rio, pega uma subida com um desnível de cerca de 300 m até o Marco 22. Da em torno de uma hora essa subida, a depender do ritmo faz menos ou mais.

Chegando no Marco 22 tem local que dá para parar um carro caso alguém vá fazer o resgate e tenha um horário combinado. Lá não dá área de celular, aí precisa caminhar cerca de 800 metros (serra da Graciosa acima) até o primeiro quiosque, que deveria dar área, mas não deu, se for chamar alguém na hora. O tio do quiosque não forneceu o wifi, o Mengue subiu um pouco mais a serra até um ponto que conseguiu sinal, de lá chamou o Murilo, que foi quem fez o nosso resgate.

De lá fomos buscar o carro na fazenda do Bolinha, tomar uma cerveja e uma coca, e assim finalizou a trip. Como caminhamos menos no último dia, não foi tão cansativo o retorno para casa.

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Comentários finais

Se eu fosse fazer novamente, faria em dois dias, levando menos peso, e iniciando a caminhada mais cedo também. Devido ao longo trecho que passa por leito de rios, acho um pouco mais perigosa essa travessia para se fazer sozinha, é mais delicado e exige mais atenção se estiver úmido, nesses trechos não tem sinal de celular também.

Tem pessoas que fazem a travessia de ataque, vantagem de levar menos peso, mas penso que deve ser bem cansativo e não dá para aproveitar muito o visual. Se for fazer em 2 dias vai precisar caminhar bem, se ficar se enrolando muito não vai dar.

Acredito que o melhor período para fazer a travessia é da metade do inverno em diante, quando o tempo estiver mais seco, ou se vier de uma temporada de outono seco também vale ir antes, no início do inverno. No verão nem pensar!

Travessia muito bonita. Vale a pena a caminhada! Ahh e fazer de dia para poder curtir o visual, porque se for caminhar de noite e ainda não conhecer a região, vai perder a paisagem.

Fotos somente de celular dessa vez, sem câmera nem drone.