Pesquisas e Relatos

Escalada em Itatim (BA)

Como na virada do ano de 2023 para 2024 não deu para viajar para longe, acabei indo escalar em Piraí do Sul com o Elcio, e comecei a planejar uma viagem para conhecer Itatim-BA, durante o 4° Festival de Escalada de Itatim, que iria acontecer entre os dias 29 e 31 de março. Depois de alguns preparativos, eis que chegou o grande momento. 

Peguei o avião para Salvador no dia 27 de março (quarta-feira) e o voo de volta para casa no dia 6 de abril (sábado). Fomos eu e o Edison (em voos separados), que na época estava morando em São Bento do Sul-SC. Alugamos um carro próximo ao aeroporto e ainda no mesmo dia nos deslocamos para Itatim, chegando lá a noite. Pousamos no sítio Trad Friends (super recomendo o local), fomos os primeiros a chegar na casa, mas depois chegou uma galera por lá, inclusive de Joinville, numa rock trip organizada pelo Dani Casas.

Como faz muito calor, a gente acordava cedo para escalar até umas dez horas da manhã se possível, retornar, comer, se hidratar, descansar… e a partir de umas 15, 16 horas ir novamente escalar. Lá tem que se organizar dessa forma, escolhendo as faces da rocha para escalar de acordo com a posição do Sol. 

Outras duas observações é que realmente precisa economizar água, aconteceu de ficarmos uns dias sem água na casa (durante o festival), devido a demanda ser maior do que a capacidade de abastecimento do município, sem falar que o clima lá é bem mais seco do que na região da Serra do Mar. 

Por curiosidade, de noite, tem muitas pererecas lá pelo quintal, aí se deixar as portas e janelas abertas elas entram no banheiro, quartos, cozinha… Não me sinto muito confortável com a ideia de elas saltarem em mim rsrs. No caminho de ida, de noite, também tinha um trecho na rodovia, acho que entre Feira de Santana e Itatim, que tinha muitos sapos na rodovia. Alguns dava para desviar, já outros não gosto nem de pensar. Como a via é de alta velocidade, não tem como ficar desviando, e passam muitos carros e caminhões por ali. Uma tristeza para os bichinhos que devem morrer aos montes. 

Itatim é realmente um lugar incrível, as vias de escalada são de fácil acesso. No Morro da Toca mesmo a gente saía equipados de casa, não dava nem 5 minutos até a parede das faces mais próximas (norte, nordeste e leste). Além disso, dava de ver da varanda de casa a galera escalando o Arco da Toca (e outras vias da face leste e nordeste do morro), deitada na rede tomando uma heineken, um gatorade, ou água na maioria das vezes rsrsr.

Tem muitas vias de escalada, tanto vias curtas mais esportivas, quanto vias de várias cordadas, fixas, mistas, em móvel, de diferentes graduações. É realmente um paraíso, fui embora com vontade de ficar uns 2 meses escalando por lá. Tem umas aderências também, ali no Morro da Toca, nas faces leste, nordeste e norte que entrei, de modo geral, o início de todas as vias têm uma rocha mais escura e de aderência. A via Zé Badin no início também tem umas aderências delicadas.

Foram 6 dias de escalada, seguindo a seguinte ordem:

  • 28/03 – Via Expressa, Isolamento Social e as esportivas: Maria Mole, Papa Broca e Hidroxiparafina (Morro da Toca);
  • 29/03 – Zé Badin (Morro do Peitinho) e Expressíssima (Morro da Toca);
  • 30/03 – Isolamento Social (Morro da Toca);
  • 31/03 – Normal do Napoleão (Morro do Napoleão) e Arco da Toca (2 primeiras cordadas até a Toca (Morro da Toca);
  • 01/04 – Shaolin do Sertão (Ponta Aguda);
  • 03/04 – Isolamento Social e Arco da Toca (Morro da Toca).

Foram cerca de 1.240 metros de escalada durante esses dias, rendeu bastante. Ficamos um total de 7 dias em Itatim e eu conheci 4 morros distintos: da Toca, do Peitinho, Napoleão e Ponta Aguda. Em uns dois dias não rolou escalar (muito): no terceiro dia da trip meu parceiro de cordadas estava doente, talvez uma insolação (de tarde entrei na via Isolamento Social). Outro dia descansei à tarde para fazer a via “O Jardineiro”, que não rolou fazer porque choveu (eu ia com um guia local). Contratempos, como em toda e qualquer viagem.

Depois nossa viagem seguiu para conhecer a aldeia hippie de Camaçari-BA, próximo a capital Salvador. Olha, sinceramente não achei nada demais, talvez porque a maré estava alta e não formava as piscinas naturais na praia, ou porque achei o local (bar que fomos ver se tinha comida) um pouco sujo. Não me senti muito à vontade, vale mais ficar escalando em Itatim. Mas nesse episódio em especial a gente visitou o pai de um amigo do Edison que mora por lá. Olhando bem as fotos o lugar é bonito, acho que eu que queria ficar escalando kkk

Também ficamos um dia conhecendo um pouco de Salvador, já que nem eu nem o Edison conhecíamos ainda. Muitos lugares, igrejas, museus, etc. Só tem que cuidar para não sair de lá sem grana, porque tem muita pobreza (infelizmente), e gente pedindo dinheiro para todo lado. Inclusive um pouco invasivo, um cara começou a pintar meu braço e perna sem nem pedir permissão e depois me cobrou 80 reais por isso, paguei 40 para não criar problemas. Gastei mais dinheiro em um dia em Salvador do que 7 em Itatim (sem contar despesas de hospedagem e aluguel de carro).

Na sequência vou descrever alguns detalhes sobre as vias e os dias de escalada, o que lembro, pois escrevi o relato quase 3 meses depois. Mas tinha umas anotações para auxiliar e ajuda dos universitários rsrsrs.

Via Expressa 3° IVsup E2 180m

Essa é uma das vias longas mais fáceis que tem em Itatim, e no Morro da Toca em si, por isso, optamos em iniciar por ela, para “aclimatar” ao estilo local. É uma via bonita e fácil, mais positiva, comparado com a Expressíssima, por exemplo. Realmente não me recordo de algum lance muito delicado ou difícil, então é mais desfrute mesmo. São 6 cordadas (quinta cordada com 54m), escalada mais rápida pela facilidade, somente no final que as chapas ficam mais distantes e talvez fique um pouco mais confuso de encontrar a linha da via, mas é só ir com atenção e procurando bem que acha. Aí tem o crux na última cordada, mas é bem protegido.

 

Saímos pelo cume e como ainda era cedo entramos na Isolamento Social, que descrevo no próximo item. Depois voltamos para casa, fizemos um almoço, esperamos o Sol baixar e fomos nas vias esportivas que tem na face nordeste do Morro da Toca, que é realmente muito próximo da casa que estávamos hospedados.


Entramos na Maria Mole 4° 20m, Papa Broca 3° 20m e Hidroxiparafina 5°sup 22m. A última realmente é a mais complexa e a mais legal, crux no final, a Papa Broca diria que é mais que terceiro grau (quarto) e o que chamou a atenção é que todas tem uma rampa de aderência lisa no início.

A Lua no céu, logo cedo, umas cinco e pouco, Morro da Toca. Foto: Yara de Mello, 2024.
Via Expressa. Foto: Yara de Mello, 2024.
Primeiro dia de escalada, Morro da Toca, Itatim Foto: Yara de Mello, 2024.
Visual da porta de casa, Morro da Toca, Itatim Foto: Yara de Mello, 2024.

Isolamento Social 5° VI E1 98 m

Essa via foi a minha sina, entrei nela em 3 oportunidades, e em nenhuma consegui concluir. Na primeira vez fui com o Edison, no primeiro dia de escalada, logo que saímos da via Expressa, ainda era cedo e o Sol não tava pegando. O Edison guiou a primeira e a última cordada, e eu a intermediária. Ela é bem próxima da via Diretíssima, que está à esquerda, na última enfiada acabamos pegando um trecho da Diretíssima e finalizando na parada desta. Aí logo notamos que estava errado, mas ficou por isso mesmo. Essa parada fica um pouco abaixo do lance do crux da via (parada indicada no guia do Cauí inclusive), que seguia mais pela aresta. 

 

Na segunda tentativa fui com a Helena Gagine, que estava hospedada no Trad Friends. Ela veio com o objetivo maior de fazer a via Arco da Toca, e resolveu dar uma escaladinha para aclimatar. Entramos na via já estava um pouco tarde, e na P2 percebi que logo iria escurecer, como não conhecia a via para cima, para saber como sair no cume, optamos por baixar. A Helena guiou a primeira cordada e eu a segunda. 

 

A terceira e última tentativa foi com a Anna Beatriz de Joinville. Ela guiou a primeira e segunda cordada, e quando eu ia começar a terceira começou uma chuva, já tive que rapelar da primeira chapa da enfiada (pingo). Pensamos se ia ou não, olhamos o horizonte, dava de ver chuva se aproximando, não dava para ter certeza se iria passar bem na gente ou não, a parede começou a molhar… Confesso que veio na mente, nossa, terceira vez que tento e acontece alguma coisa, melhor é descer e deixar para uma próxima vez. E foi o que fizemos, no fim, a chuva passou e não voltou, e imagino que dentro de uma meia hora a parede já estava seca. Faz parte, às vezes a decisão é acertada e às vezes não.


A saída da via tem uma aderência bem delicada, antes da primeira chapeleta, ali dá para proteger a primeira com o clip stick se for de preferência de quem for guiar. Fora isso, a cordada é tranquila. Já a segunda é um pouco mais vertical, mais drenante, mas possui boas agarras, tem um crux de Vsup. É possível fazer rapel da P2 para P1 com corda de 60 m, na estica (mesmo que no guia do Cauí dê a distância de 33 m), e da P1 para o chão também. Quando voltar lá, vai ser uma das primeiras que vou entrar rsrsrsrs. O lance final para a P3 que tem o crux da via de VI grau, mas não cheguei lá, pude olhar de longe e parece ser o momento mais drenante mesmo.

Yara e Helena na via Isolamento Social, P2. Foto: Yara de Mello, 2024.
Eu e a Anna pegando aquela chuva na via Isolamento Social. Foto: Yara de Mello, 2024.
Helena na via Isolamento Social, segunda cordada. Foto: Yara de Mello, 2024.

Zé Badin 4° V E2 90m

Diria que o visual mais bonito que pegamos foi do cume do Morro do Peitinho, já tinha lido a respeito e chegando lá isso se concretizou. Fomos de carro até uma propriedade que tem uma porteira, mas não tinha ninguém na casa, deixamos o carro lá. Pegamos a trilha, passamos por baixo da cerca, passamos pelo morro do Crocodilo e seguimos em direção ao morro do Peitinho. 

 

A trilha vai até uma pequena clareira e depois segue em direção ao morro, vai subindo uns blocos de rocha e chega na base da via. Como sabia que tinha uma trilha mais longa, baixei o tracklog e levei GPS de navegação (nome popular), ajudou. Na volta inclusive tinha um casal querendo ir para lá e estava um pouco perdido. Acho que dá uma meia hora de trilha, por aí, maior parte plana.

 

Sobre a via, no início tem aderência mais delicada e a primeira chapa mais longe, na segunda enfiada também tem aderência, achei a primeira mais difícil. A terceira cordada que é a mais fácil nesse quesito (tirando o crux de V grau, mas que não é em aderência). Alguns betas: ao invés de ir direto até a P3 (que eu lembre é apenas um grampo), que a corda vai fazer uma curva gigante e dar arrasto, dá para ir até uma árvore (indicada no croqui) e dali dar a seg para o participante. Depois seguir, fazer o lance do crux e ir até a P3, a partir da P3 vai caminhando até o cume. Esse lance depois do crux até a P3 é exposto, mas fácil, só manter a calma.

 

Ahh de tarde o visual deve ser mais bonito lá, porque o sol vai estar batendo nos morros e não contra como estava de manhã. E para rapelar, tem a opção de rapelar lá do cume, num rapel no vazio, e a opção de ir desescalando até a árvore, e de lá continuar a rapelar. Se for fazer dessa forma, descer o bloco do crux de V que é a pior parte, mas nada demais, porque desce num platô bem positivo.

A caminho do morro do Peitinho, morro do Crocodilo. Foto: Yara de Mello, 2024.
A caminho do morro do Peitinho, morro do Crocodilo. Foto: Yara de Mello, 2024.
A caminho da P3, via Zé Badin, morro do Peitinho. Foto: Yara de Mello, 2024.
No cume do morro do Peitinho. Foto: Edison, 2024.
No cume do morro do Peitinho. Foto: Yara de Mello, 2024.
Parada para rapel no cume do morro do Peitinho. Foto: Yara de Mello, 2024.

Expressíssima 3° IVsup E2 150m

Via fácil, mas com lances mais verticais e mais expostos que a Expressa. Importante levar costuras longas, porque tem umas chapas em zigue-zague e dá bastante arrasto na corda se não alongar. A primeira cordada é fácil estilo via Expressa. A segunda já fica mais vertical, apesar de ter agarras, chapas mais distantes também, mas o importante é levar costuras longas para não dar arrasto. Aí a terceira cordada é vertical no início, depois vai ficando mais positiva e com distâncias maiores entre as chapeletas. Se ligar para não se confundir com a linha da Diretíssima ou mesmo da Expressa.

 

Nessa via rolou uns problemas de comunicação com o Edison, todas as cordadas são longas (cerca de 50 m), muito vento na parede também. Um rádio comunicador para a escalada vai bem. A gente não tinha, mas tinha celular. O Edison tava guiando a última cordada, eu sentindo ele escalar, depois ficou um tempão parado, aí eu não sabia se tava na parada ou o que, no fim olhei no celular e ele tava procurando a parada (acho que se confundiu com a P4 da via Expressa, indicada no croqui), depois seguiu e deu boa. Mas a bateria do cel dele acabou e eu não sabia se era para eu seguir… no fim deu tudo certo. Fomos até o cume finalizando pela Expressa e ainda pegamos o pôr do Sol lá de cima.

Pôr do Sol do Morro da Toca, Itatim, após finalizar a via Expressíssima. Foto: Yara de Mello, 2024.
Na via Expressíssima, final de tarde com sombra na parede. Foto: Yara de Mello, 2024.
Pôr do Sol do Morro da Toca, Itatim, após finalizar a via Expressíssima. Foto: Yara de Mello, 2024.

Normal do Napoleão 3° IV E2 120 m

Para acessar o Napoleão também precisa fazer uma trilha, curta e plana, acho que algo em torno de uns 15 minutos. Deixa o carro em uma clareira ao lado da rua, bem tranquilo. Também levei o tracklog para facilitar a localização. Fomos de manhã cedo porque seria o melhor horário, mas logo o Sol foi pegando. Dessa vez fomos eu, o Edison e a Anna. Rolaram muitos sorteios de equipos no festival de escalada e ela ganhou uma corda, aí já fomos inaugurar. Escalamos com 2 cordas no caso. 

 

O croqui do Cauí e do Elder mostram características distintas entre si para essa via. Ela tem 3 paradas, mas a primeira é bem próxima. Daria para unir tanto a P1 com a P2, quanto a P2 com a P3. No caso o Edison guiou até a P2, e depois eu guiei a cordada final. O crux da via pelo que percebi é logo após a P2.  

 

Nesse dia estava bem quente, e a corda prendeu para descer da P3 para a P2, no fim o Edison que tava lá em cima precisou escalar novamente para soltar a corda, eu já estava na base, porque como tinha mais uma corda consegui rapelar direto da P2 para o chão, ficou apenas uns 2 metros para desescalar (com a  corda de 60m). 

A caminho do morro do Napoleão. Foto: Yara de Mello, 2024.
Anna e Edison na P3 da via Normal do Napoleão, morro do Napoleão. Foto: Yara de Mello, 2024.
Visual do cume do morro do Napoleão, Enxadão ao fundo. Foto: Yara de Mello, 2024.

Acesso a Toca pela via Arco da Toca

De tarde o Dani subiu com o pessoal na Toca, aí eu e o Edison fomos também. Eles subiram pela Isolamento Social, e a gente resolveu ir pela via o Arco da Toca mesmo, para conhecer. Vale muito a pena subir lá.

 

O Edison guiou a primeira cordada que vai até a Toquinha, um esticão de 45m, e os primeiros 30m mais ou menos não tem uma proteção se quer, achei muito exposto, e no início tem aquelas aderências (um pouco mais de boa que a saída da Isolamento, mas sem proteção no caso). Aí no final tem uma parede mais vertical que dá para proteger com peças móveis, bem importante proteger inclusive. 

 

A segunda cordada é toda em móvel, guiei essa daí, escalada mais positiva e desfrute. Apesar de desfrute ela é tensa, porque você está com aquela Toca gigantesca próxima, sei lá, é bem imponente o local, dá uma drena. Utilizei 3 peças na seguinte ordem: .5, 2 e 1. 


Uma forma mais segura então de acessar a Toca, seria indo pela via Isolamento Social, que é menos exposta.

Dia de rolê na Toca, Morro da Toca, Itatim Foto: Yara de Mello, 2024.
Dia de rolê na Toca, Morro da Toca, Itatim Foto: Yara de Mello, 2024.
Dia de rolê na Toca, Morro da Toca, Itatim Foto: Yara de Mello, 2024.

Shaolin do Sertão 5° Vsup E2 160m

Até então, essa foi a via mais difícil que a gente escalou durante nossos dias por lá. Localizada na Ponta Aguda, a Shaolin está na face norte do morro, o Sol dá as boas vindas logo que nasce, então é bem quente, por isso, fomos bem cedo. 

 

Via de 4 cordadas, as duas primeiras mais curtas e as duas últimas mais longas. Vale a pena um rádio comunicador para facilitar. Logo no início da primeira enfiada tem o crux, vertical, faz uma força. A segunda enfiada é mais desfrute, a terceira bem na saída tem uma aderência daquelas, lance bem delicado, achei ali o crux da via inclusive, dá para dar uma roubada segurando na costura para ganhar altura e passar. 

 

Via bonita, um pouco mais exigente, mais vertical. O retorno é feito parte por trilha e contém 2 ou 3 rapéis. Nos livros guia explica, e também tem tracklog para baixar na internet. Saímos de lá torrando do Sol e fomos direto na city comer um açaí para refrescar, de um dos patrocinadores do festival.

Sol fritando cedo na via Shaolin do Sertão. Foto: Yara de Mello, 2024.
É cume, Ponta Aguda, Itatim. Foto: Yara de Mello, 2024.
Foto clássica da igrejinha no caminho de acesso para a via Shaolin do Sertão. Foto: Yara de Mello, 2024.
Açaí para fechar a escalada da via Shaolin do Sertão. Foto: Yara de Mello, 2024.
Visual da varanda de casa, Trad Friends. Foto: Yara de Mello, 2024.

Arco da Toca 6° VIIa E2 185m

Eu estava nervosa para entrar nessa via, acho que o principal motivo era a vontade de não cair e pendular para dentro da Toca. Eu tinha treinado o procedimento de ascensão com dois cordeletes, mas tinha receio de na hora me embabacar, além disso, o medo da queda em si. Sabia que seria duro, tinha perguntado para algumas pessoas que escalam forte e eles acharam duro, então estava meio drenada.

O Edison estava muito na vibe de fazer a via, sem que a gente contratasse um guia, estudou e veio com o psico preparado para isso. Aí o nosso combinado era que ele guiasse as cordadas 3 e 4, as mais difíceis que vão contornando o Arco. Bom, como sabia que o crux de VIIa seria duro para nós, levei tanto a panic quanto o clip stick, caso desse algum BO, para não precisarmos descer, e sim finalizar a via do jeito que fosse possível. 

Decidimos iniciar ela pela Isolamento Social, como algumas pessoas fazem, para se livrar daquela exposição da primeira cordada da Arco da Toca. Iniciei guiando essa cordada, aí em um momento precisa sair da linha da via e se direcionar à direita para a Toquinha. Cordada longa. Guiei a segunda enfiada também que é em móvel. Depois começou a pegada forte. 

O início da terceira enfiada começa mais de buenas, até chegar no crux, que realmente é duro, de regletes. A vantagem é que tanto a terceira quanto a quarta enfiada são super protegidas. A queda do crux de VIIa não vai dar no vazio, a parede ali ainda é vertical na reta ao lado da toca. Edison tentou algumas vezes, até passar o crux e chegar na P3. Acabou fazendo muita força ali, e foi mais do que ele esperava. Deu uma desanimada e perguntou se eu queria continuar a escalar a via. Eu estava numa expectativa tão grande para aquilo que não queria desistir não, como tínhamos o clip stick, até me arriscaria a ir na ponta da corda se fosse o caso. Continuamos.

O crux é duro mesmo, até roubando na costura fiz muita força rsrsrs, fora toda a tensão no ar, com a Toca ao seu lado. Na P3 a gente se acalmou, colocou as ideias no lugar, e seguimos protegendo com o clip stick de costura em costura nos trechos mais complexos, aí ia escalando bem protegido, além disso, dava para passar a auto seguro na corda que descia, para não pendular. Assim seguimos até a P4, que também tem um crux duro, mas já na vertical quando está subindo.

Eu fui de segundo até a P4, sem a minha panic que acabou ficando na cadeirinha do Edison. Fiz tanta força que olha, ia de costura em costura e dava uma parada para descansar, entrava em auto na chapeleta, respirava fundo, se precisasse segurava na costura e assim fui até a P4, sem cair, sem pendular. 

Depois dali é passeio, seguindo até um caminho que a gente já tinha passado outras duas vezes, ligando com a via Expressa. Foi uma grande conquista e um grande alívio a hora que saí da Toca, é muito massa escalar com o pé na beira do buraco, mas ao mesmo tempo não via a hora de sair dali. O psico pega forte pelo lugar que você está, aí já não escala com o corpo relaxado. Isso faz aumentar a tensão e talvez a dificuldade.

Depois de completar a via, estávamos de cabeça feita, só tomar uma cerveja para comemorar.

Vídeo gravado quando eu estava em auto em alguma chapeleta da quarta cordada da via o Arco da Toca.

Eu e o Edison de cabeça feita na P4 da via Arco da Toca. Foto: Yara de Mello, 2024.
Edison na P1 da via Arco da Toca, na Toquinha. Foto: Yara de Mello, 2024.
Na sofrência, acredito que na P3 da via Arco da Toca. Foto: Yara de Mello, 2024.

Comentários finais

Itatim é um verdadeiro paraíso, que lugar incrível! É um lugar que dá pra evoluir na escalada, nas técnicas, nas vias de múltiplas cordadas. Opções de vias mais fáceis (muitas opções), vias intermediárias e também difíceis. Tem para todos os gostos. 

 

Além disso, dá para economizar bastante grana por ali, ficando em algum hostel (como o Trad Friends) e fazendo comida em casa. Importante se hidratar, com água e gatorade não dá para economizar rsrsrs. O que mais gasta mesmo para quem vem de longe é a passagem de avião. 

 

Ter um carro faz uma grande diferença, para poder acessar os picos, ir ao mercado e tudo mais. Acho que vale a pena alugar, mesmo se for em 2 pessoas, sabe-se lá quando você terá a oportunidade de voltar. E faz muito calor para pensar em ficar caminhando no Sol para conhecer os picos longe do refúgio. 

 

Não vejo a hora de voltar!

Mais fotos e vídeos

Dia de chuva, que não rolou escalar a via “O Jardineiro”.

Galera curtindo um forró no festival de escalada.

Da esquerda para direita: George, Anna, Edison, Marina, Thiago, Dani, Yara e Marcelo.
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