Autora: Yara de Mello

Esta é uma travessia distinta do que estamos acostumados aqui na região de Joinville. É uma beleza diferente, e impressionante, que me encantou demais, o sentimento enquanto estava trilhando por lá, é de que tinha voltado no tempo. Resgatando algumas memórias da escola e da faculdade sobre a época da colonização do nosso estado, do estado vizinho RS, e a cultura desse povo. Terrenos desafiadores, paisagens pitorescas, desafios novos a cada dia… A conquista pessoal do ponto mais alto do estado de Santa Catarina foi apenas um detalhe desta trip.

DADOS GERAIS

Período de realização: 15 a 18 de junho de 2017
Percurso total aproximado: 50 km (cálculo no ArcGIS)
Participantes da Travessia:
Alex Wisnieski (Jaraguá do Sul/SC)
Allan Araujo (Blumenau/SC)
Idce Sejas (Curitiba/PR)
Yara de Mello (Joinville/SC)

Participantes da travessia no Cânion Espraiado. Foto: Alex Wisnieski.

 

BREVE RELATO

 

1° Dia – Base Pedras Brancas (Alfredo Wagner) X Camping próximo a nascente do rio Paraíso da Serra ou Bom Retiro (Bom Retiro)/ 8 km aprox.

(distância GPS = 8 km aprox.)

 Foi nossa primeira vez nesta travessia. Por isso foi preciso dar uma estudada no trajeto, e selecionar um bom track para colocar no GPS. As cartas topográficas do IBGE que cobrem o trajeto são: AIURE (29241) e BOM RETIRO (29083), ambas na escala 1:50.000. Alguns dos nomes de lugares e rios citados neste relato foram baseados nestas fontes. O “Pedras Brancas”, por exemplo, é comumente chamado de Pedra Branca de Alfredo Wagner, aqui optei por utilizar “Pedras Brancas”. As extensões foram calculadas no ArcGIS, e a distância marcada pelo GPS foi maior, por isso usei a palavra aproximadamente.

Mapa de localização da Travessia Campo dos Padres. Fonte: IBGE; SDS. Elaborado por: Yara de Mello, 2017.

Iniciamos a trilha quando já havia passado das 13 horas do dia 15/06, porque somado o tempo de deslocamento desde Joinville, passando por Jaraguá do Sul e Blumenau, parada para lanchar, etc. resultou em umas 7 horas. Destaca-se que antes de chegar à base da trilha para Pedras Brancas (1.666 m)/ início da travessia, ao sair da rodovia, é preciso pegar uma estrada de chão de aproximadamente 10 km.

Este primeiro dia foi o de maior desnível de caminhada em ascensão direta (aproximadamente 600 metros), como é possível observar na figura abaixo. Este trecho da trilha está boa parte em mata fechada, é bem marcado, e vai margeando o rio Santa Bárbara e seus afluentes. Vencida esta etapa de subida a caminhada fica um pouco mais suave, por campos e terreno encharcado (em um bom trecho). Ainda antes de o sol se pôr, conseguimos montar o acampamento numa paisagem de campos, seca e próxima a uma fonte de água, do rio nomeado de Paraíso da Serra ou Bom Retiro.

Perfil altimétrico da Travessia Campo dos Padres que realizamos, com destaque para os dias que percorremos cada trecho. Elaborado por: Yara de Mello, 2017.
Muro de pedras. Foto: Yara de Mello

 

2° Dia – Camping próximo a nascente do rio Paraíso da Serra ou Bom Retiro (Bom Retiro) X Camping penhasco rio Ladeira (Anitápolis)/ 15,5 km aprox.

(distância GPS = 18 km aprox.)

 O segundo dia prometia, pois iríamos passar pelo cume do morro Chapéu ou morro Bela Vista do Guizoni (1.810 m), e também pelo ponto culminante do estado de Santa Catarina, o morro da Boa Vista (1.827 m). Iniciamos a caminhada que logo de início já foi exigente, lembrando que em alguns trechos passamos por caminhos de gado, antigas estradas de madeireiras, campos de altitude, terrenos encharcados, mata fechada… A neblina estava baixa até próximo ao meio dia, quando chegamos ao morro Bela Vista do Guizoni (Bom Retiro). Lá está cravado um marco de referência do antigo CEFET, e percebemos que as amigas vacas são as principais frequentadoras do local.

Uma das paisagens mágicas que dá dó de caminhar por cima. Foto: Yara de Mello.
Marco de Referência no cume do morro Bela Vista do Guizoni. Foto: Yara de Mello.
Fofas demais! Eu achando que estava espantando, enquanto na verdade estava chamando, até que a Idce mostrou sua habilidade sonora de enxotar vacas (rsrsrs). Foto: Yara de Mello.

Depois caminhamos um tanto, descemos mais de 100 metros de altitude (pegando trecho de mata fechada), passamos por uma casa de campo, para depois subir mais de 200 metros, totalizando mais de 5 km até chegar ao cume do morro da Boa Vista (Urubici). Lá encontramos dois marcos de referência do Conselho Nacional de Geografia/IBGE e um do CEFET, apreciamos a paisagem… Seguimos caminhada, abastecemo-nos de água no rio Canoas, chegando ao camping quando já era noite. No local de acampamento, por estar pouco protegido, e próximo ao penhasco, ventava bastante, a noite estava estrelada. Este ponto está bem próximo à divisa entre Urubici e Anitápolis, a oeste o rio Canoas e a leste o rio Ladeira.

Vista a partir do cume do morro da Boa Vista. Foto: Yara de Mello
Pôr do sol, enquanto ainda estávamos na trilha, se afastando do morro da Boa Vista em direção ao camping. Foto: Yara de Mello.

 

3° Dia – Camping penhasco rio Ladeira (Anitápolis) X Cânion Espraiado (Grão Pará)/ 16,3 km aprox.

(distância GPS = 16 km aprox.)

 O dia já amanheceu sem neblina, e com a energia a mil, por avistar um lindo nascer do sol da borda da serra.

Pouco antes do nascer do sol, na borda da serra. Foto: Yara de Mello

No terceiro dia a maior parte da trilha está no território de Urubici. No início a vegetação é aberta, de campos. Passa-se pelo cemitério abandonado, pela casa azul, uma das cachoeiras do rio Canoas, e depois um trecho bem longo segue antigas estradas de exploração de madeira, com vegetação fechada, sem visual. Avistamos búfalos e vacas. A caminhada apesar de não ter tanta subida, é exigente, ainda mais com o acúmulo de km dos dias anteriores.

A caminhada do dia terminou num lugar de beleza natural espetacular, que é o Cânion Espraiado. Conseguimos ainda dar uma volta pela borda esquerda (de montante para jusante) do cânion, e avistar lá no fundo o rio Espraiado, com suas belas cachoeiras, Torre dos Anjos, etc.. Dormimos acampados dentro do rancho do refúgio do Espraiado, onde é possível alugar para pousar, jantamos um carreteiro feito pela Carol (proprietária) e tomamos bonSS vinhos. Tinha uma galera pousando por lá, de Timbó e Rio do Sul (se não me falha a memória).

Cânion Espraiado. Foto: Yara de Mello.

 

4° Dia – Cânion Espraiado (Grão Pará) X FIM – Estrada margeando rio Canoas (Urubici)/ 8 km aprox.

(distância GPS = 18 km aprox./ somado passeio pelo cânion e caminhada na estrada de retorno até propriedade da família Munareto)

 No dia seguinte acordamos com calma, demos uma volta na borda direita (de montante para jusante) do cânion, que fica em Grão Pará, depois retornamos para o abrigo. O Allan e Alex continuaram a caminhada pela estrada até o final, com suas cargueiras. Eu e a Idce descemos de carona na 4×4 com a Carol e o Douglas, sem falar nos dogs que fazem o trajeto na raça correndo até lá embaixo. Impressionante como eles são empenhados e estão em forma… hehehe. Na descida da estrada ainda é possível observar a Pedra da Águia, uma linda formação rochosa.

Araucárias – Cânion Espraiado. Foto: Yara de Mello
Cachoeira do Adão. Foto: Yara de Mello.

 

CONSIDERAÇÕS FINAIS: Este é apenas um breve relato do que vivenciamos, e poucas fotos para representar tantas paisagens que merecem ser preservadas. A travessia é exigente, porque além da quilometragem ser extensa o terreno é difícil. Precisa de GPS para se orientar. Seria um sonho se o local continuasse sendo pouco explorado, e que os próximos que passem por lá tenham a consciência de respeitá-lo.

Agradecimento especial ao Renan Schuller, por ter feito nosso traslado de Urubici até Alfredo Wagner. A Carol e ao Douglas Munareto pela ótima recepção no Cânion Espraiado, carona de volta, vinho maravilhoso de Urussanga, e carreteiro. E também ao Afonso Lenzi, por ter nos ajudado a organizar alguns detalhes da viagem e emprestado o SPOT e um GPS para Idce.

ALÉM…

Abaixo destaco uma imagem que traz o perfil altimétrico da Travessia Campo dos Padres: o arquivo gerado a partir da track do GPS (dado real), e para comparar foram testados dois Modelos Digitais de Elevação (MDEs), o SRTM com resolução horizontal de 90 metros, e o SDS com resolução horizontal de 1 metro.  Utilizando o mesmo trajeto, com a altitude referente a cada um dos MDEs. Bom, o SDS1 mostrou um péssimo resultado para representar este perfil altimétrico. Apesar de que já fiz outros testes aqui para Joinville e obtive bons resultados. Enquanto o SRTM, com uma resolução bem inferior ao SDS, apresentou resultados mais satisfatórios, e bem próximos do real.

Perfil altimétrico da Travessia Campo dos Padres a partir de dados do GPS, SRTM 90 e SDS 1. Elaborado por: Yara de Mello, 2017.